A rotina acadêmica dos estudantes de semiologia médica da UFMG

Esse blog foi elaborado com a proposta de compartilhamento de informações, fontes e conhecimentos dos mais uteis e diversos para incrementar a formação médica dos estudantes do 5 periodo de medicina (2º/2011), da UFMG.

Formamos uma turma pequena, coordenada pelo professor Flavio Chaimowicz. Esperamos que a comunidade acadêmica e demais visitantes possam aproveitar esse blog como fonte de informações e críticas.

A todos, nosso abraço.

Marina Fernandes, Matheus Inácio, Montgomery Barroso e Neander Neves.

domingo, 25 de setembro de 2011

Biossegurança: a realidade dos estudantes do 5º período e o elo teoria-prática no ensino médico

[por Marina Fernandes, Montgomery Barroso, Neander Neves e Matheus Inácio]
Biossegurança é um conceito ainda mal estruturado para nós, enquanto estudantes do quinto período de medicina, fase inicial do ciclo de prática médica. Durante o ciclo básico, exclusivamente em sala de aula, alguma coisa foi explicada acerca das medidas de proteção pessoal do profissional de saúde. Não se pode afirmar, porém, que houve uma informação formal sobre quais medidas a serem adotadas rotineiramente na prevenção da exposição a materiais biológicos.
Algum conhecimento já foi consolidado, até agora, sobre as principais vias de contaminação ocupacional, principalmente no que se refere a infecções causadas pelo HIV e HBV, mas muito pouco sobre as medidas adotadas pós-exposição, em especial, a quimioprofilaxia. Alguns alunos possuem um conhecimento um pouco maior sobre tais assuntos, mas isso, geralmente, está vinculado a oportunidades de estágios e preceptorias nas quais há orientação de outros profissionais sobre o que se deve e não fazer. A extinta disciplina de PSA (Práticas de Saúde A), na época em que era ministrada, apresentava-se um bom meio de discussão das práticas em biossegurança. Ao se reduzir o espaço de discussão sobre o tema, corre-se o risco de ele ficar negligenciado.

Interessante, ainda, é o desconhecimento de boa parte dos alunos de medicina, inclusive nossos colegas contemporâneos, acerca da necessidade de vacinação contra hepatite B e a sorologia dos vacinados. Até agora, só nos foi exigida vacinação para entrada e aulas práticas no Hospital Raul Soares, onde temos a disciplina de Semiologia e Nosologia Psiquiátrica. Isso evidencia quão negligente está a instituição educacional quando se trata da prevenção pré-acidentes.
Ainda não realizamos rotineiramente procedimentos com os quais tenhamos de lidar com sangue ou fluidos corporais. Portanto, seria infiel uma auto-análise sobre uso de equipamentos de proteção individual, tais como luvas, óculos, máscaras e avental. Porém, podemos afirmar a consciência no dever de fazer uso cotidiano dos mesmos. É sempre bom aprender mais sobre o tema e internalizar o conhecimento já aprendido. Isso se faz com a repetição na prática, até que as condutas de segurança se tornem tão automáticas quanto usar o cinto de segurança em automóveis.

Analisando dois artigos sobre o tema de biossegurança no ensino da medicina (referências ao final do texto), é possível fazermos algumas reflexões sobre nossos próprios comportamentos, conhecimentos e adesão às precauções referidas. Ainda estamos em baixo risco ocupacional, pois não temos muito contato com material biológico ou pérfuro-cortantes, tampouco com procedimentos invasivos. Porém, reconhecemos estar mais susceptíveis a contaminação por agentes infecciosos que a população em geral, além de estarmos mais expostos aos mesmos à medida que o curso avança e o contato com pacientes aumenta.

Quanto ao questionário1 aplicado à Faculdade de Medicina da UFJF, alguns alunos da UFMG, acreditamos, seriam capazes de acertar todas ou quase todas as questões. Os alunos daquela faculdade tiveram um índice de acerto muito alto, entretanto, em se tratando de segurança, não podemos nos conformar com um pequeno índice de erros. O ideal seria que todos acertassem tudo. O questionário poderia ser complementado com perguntas sobre o manuseio de instrumentos pérfuro-cortantes, como reencapar ou não uma agulha já utilizada ou o transporte de seringas preparadas com medicação. Nota-se que houve redução do percentual de acidentes entre os alunos quando se comparam as pesquisas realizadas na UFMG em 19992 e aquela realizada na UFJF em 20091, mas ainda há necessidade de melhorar o nível de biossegurança, uma vez que as consequências desses acidentes são muito graves. Essa melhora depende de ações de educação teórica, prática e também de fiscalização das atividades.

Na década que se passou entre a publicação dos dois artigos analisados houve alguma melhora com relação à biossegurança. Parece que o ensinamento teórico em sala de aula aumentou consideravelmente (antes, cerca de 30% dos estudantes se lembravam de ter tido educação formal no assunto, ao passo que mais da metade dos estudantes de medicina afirma ter recebido orientação em sala de aula atualmente). A prática permanece sendo o maior fator de consolidação e adesão às medidas de proteção, sendo que a orientação de professores e preceptores permanecerá sempre uma ferramenta de muita importância. As estatísticas observadas nas duas ocasiões, tanto na década de 1990 quanto no ano de 2010, são bastante semelhantes em muitos aspectos, principalmente naqueles que tratam do aumento da incidência de acidentes com o decorrer do curso e também no que se refere ao nível de conhecimento sobre biossegurança. O principal fator de risco para o profissional de saúde é o não cumprimento das precauções universais e não uso ou uso incorreto dos equipamentos de proteção.

Analisando os artigos referidos nesse texto e comparando-os com nossa realidade de estudantes de medicina, notamos que as bases da biossegurança, tanto equipamentos recomendados quanto as normas, evoluíram bastante no período entre a redação desses artigos, mas ainda é um setor negligenciado no ensino médico.
A formação teórica no assunto é muito importante, pois permite ao estudante acesso a orientações sobre a postura adequada para auto-proteção, medidas de profilaxia e medidas de tratamento caso haja exposição ou acidente. Além disso, (re)conhecer a vulnerabilidade a qual estamos sujeitos, enquanto estudantes de saúde, é fundamental para efetiva adesão às práticas de biossegurança. O ensino, porém, não é restrito à sala de aula e é dinâmico, cabendo aos alunos, professores e demais profissionais guardar o ambiente de trabalho e estudo através da orientação e diálogo entre todos. Todos podem ser seus próprios policiais e manter a vigilância para que o outro mantenha-se seguro, sempre baseando-se na ética e no respeito. Parece também útil a reciclagem dos hábitos em biossegurança regularmente, principalmente para evitar que práticas viciosas e perigosas sejam adotadas repetidamente, ou seja, para evitar que, mesmo na posse de conhecimento, o profissional torne-se negligente.
São medidas pequenas e simples que podem evitar problemas futuros maiores, começando por entender que somos totalmente susceptíveis e cuidarmos bem de nós mesmos e do ambiente em que estamos inseridos.


Referências:
1Antunes HM et al. Biossegurança e Ensino de Medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora, (MG). Revista Brasileira de Educação Médica 34 (3): 335–345; 2010]
2Toledo Jr. AC et al. Conhecimento, atitudes e comportamentos frente ao risco ocupacional de exposição ao HIV entre estudantes de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 32(5):509-515, set-out, 1999.

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